quarta-feira, 15 de março de 2017

Recorte

Quase distraída, passou a mão em alguns papéis e numa caixa de lápis coloridos. 
Jogou tudo na mesa e, em uma folha, rabiscou um “coração”. Começou com um contorno e finalizou preenchendo-o na cor vermelha, quase rasgando: o peito e a alma. Ao terminar, ainda lembrou-se do tempo de criança, quando os desenhos eram anseios para projetos futuros. Agora, adulta, apenas um meio de esquecer.
Levantou e pegou a tesoura, antes largada em cima de um móvel. 
Furou o desenho, arrancou a parte feita há pouco e dilacerou-a com raiva. 
Fixou os olhos na parte preservada... E desejou que também assim fosse dentro dela...

2 comentários:

  1. Como seria bom se pudéssemos arrancar de nós o que nos faz sofrer e destruir, como fizera com o desenho no papel.....

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