terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

E-pístola

Meu querido,

Num susto, peguei-me pensando em você... (mais uma vez)
Tem sido constante nos últimos dias, perdoe-me, mas não consigo controlar.
Imaginei todas as possibilidades que existiriam se estivéssemos juntos.
Peguei-me olhando fotos de outras épocas,
E fiquei analisando os contratempos entre nossos próprios tempos.
Nunca saberei o que seríamos se a união nos fosse plausível,
Os nós que enfrentaríamos se fôssemos, uma vez, apenas nós (dois).
Não concordo com essa malícia que os anos aprontaram! 
Não foi justa – comigo, sei.
Algumas vezes os retratos das horas nos tornam incapazes de sonhar
E realizar...
Sou presente, você passado.
E no seu presente, nem sou.
E, se permitisse, como seria?
Colega, camarada, cúmplice?... Ou simplesmente uma foto num porta-retratos, tal qual imagem a cores de uma ilusão? – (minha, e só!)
Inviável, impossível, inconcebível!
Como perdoar os riscos duradouros da caneta da vida?
E como apagar o que não foi escrito?
Tento abstrair, mas, apenas hoje, não consigo. (Apenas?)
Perco-me em lágrimas de descontentamento.
Mas, anjo de outrora, deixe-me aproximar um pouco – e aos poucos. Ser ombro e toque nas mãos, apenas quando necessário: contentar-me-ia com seu sorriso e fala – prometo não ultrapassar!
Ajude-me não matar o que ainda sopra em esperança.
Antes que morramos, deixe-me estar!
Permita-me ser... p’ra você.
Ao menos uma vez.

M.


sábado, 18 de fevereiro de 2017

Ao vento

Começou sem querer e sem querer deixei ficar.
Estava à beira do vazio total e, num lampejo, tomou um lugar.
“Quanta asneira!”, bem sei. Mas permiti presença.
Mas não há possibilidades, só meus tolos pensamentos.
Camuflado em sopros, carrego o passar das horas.
Vaga preenchida, momentaneamente, pelo não existente.
Sem esperanças, deixo vaguear – em mim.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Origami

Pegou o papel e começou em dobraduras.
A cada novo formato, uma nova esperança.
Errou aqui, acertou acolá.
Zangou, jogou de lado. “Não consigo!”
Passou um tempo, até olhar sem querer...
E querendo refez os passos
De onde tinha empacado.
Mais dobras, mais caretas. Poucos sorrisos.
Ao terminar, encheu o peito de ar.
Correu até o rio, o mais rápido que conseguiu.
Colocou o barquinho n’água e empurrou.
Dois passos para trás e quase gargalhou...
Mas pouco durou: desmanchou.
Tal quais antigos sonhos...


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Zero

E, num momentos de quietude (ou conformidade), você surge. 
Gotas do que não será (e nem seria!) pingam no meu rosto fatigado pelas impossibilidades. 
Menos um; apenas menos um naquela matemática incurável. 


terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Em tempo, há tempo... – Presença real



"Amiga, companheira,
Perdição, salvação...
Hoje não posso defini-la com um só termo ou palavra...
Ela me trai todas as vezes em que faz suas escolhas e, na sua missão, olha exatamente os que a negam, mesmo com o poder de “cura” que mostra ter.
Não a culpo,
Não a protejo,
Não a julgo...
Mas não sou feita de açúcar. E se assim fosse, já teria desmanchado ante todas as lágrimas que me fez chorar.
Implorei muitas vezes por suas mãos frias e toques certeiros, onde pudesse me levar para bem longe de qualquer lugar. E para qualquer lugar.
Ela não aceitou propostas e acabou passando perto e levando quem não deveria.
Pura traição...
Não quero compartilhá-la, quero-a perto de mim.
Insisto em pedir sua atenção, sou egoísta.
Seus olhos não tardam em me ignorar.
Não sei se estar em sua presença significa fuga ou resposta. Pra mim, talvez os dois.
Passou perto de mim.
Conheço-a desde que rondou alguns de meus dias, cochichou-me verdades doídas, indicou a viagem tão próxima... mas não minha.
Não posso negar que, de algum modo, ela ajudou na hora certa. Tirou o espinho e libertou uma alma que sofria na carne doente.
Sua presença é real e não para.
Dinâmica.
Pedi conselhos e seu abraço assustador. Ela se esquivou, pois seu grande Orientador não a permitiu.
Somos irmãs, filhas de um mesmo Pai.
Seu toque fatal é inevitável a todos e cada um.
Não há o que argumentar quando nos mira com intrigante ternura.
Enquanto não a conheço, sonho com todos os que já trilharam seus caminhos.
Saudades do Pai, saudades de pai..."

 ----------

Escrevi o texto acima em dezembro de 2009, frente aos sentimentos que me ocorreram à época, logo após o falecimento de meu pai. Foi exposto em um antigo blog que, hoje, mantenho fechado, e é de lá que trago os textos vinculados ao título “Em tempo, há tempo...”, todas as vezes que percebo algum traço de comunhão com os pensamentos da atualidade.
Minhas escritas da época eram pesadas e, por conta disso, criei esse espaço para os “novos” pensamentos, visto que minhas antigas percepções sobre mim e o mundo não se encaixam totalmente com as atuais – apesar de ainda acontecer coincidências nas ideias.
O que me assustou, na verdade, foi a quantidade de “curtidas” que o texto teve no pouco período que o blog ficou aberto (66.762 likes) e fico me perguntando se quem leu entendeu realmente sobre o que (ou quem) eu estava falando... Será que todos aqueles que o leram também carregam (ou carregavam) o peso da morte como uma das poucas opções? Será que somos tantos assim, atolados no manto da depressão e cobertos por máscaras de felicidade? Ou apenas os leitores foram complacentes com minhas emoções? Nunca saberei. Mas afirmo o quanto me senti confusa, já que não sei se há tantos corações amargados em perdas – e que, inclusive gostariam de trocar de lugar com aqueles que se foram – ou apenas tentando encontrar atalhos para fugir dos problemas – pois era assim que pensava e ainda penso muitas vezes.
Muita coisa mudou. Muitas outras permaneceram.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Frequência (da "onda")

"A admiração tem dessas coisas: o que não nos encontra no contato de um dia a dia, surpreende-nos pelo discurso em outrora. O som da fala, sempre tão agradável e única, vira concretude das desconfianças – no melhor dos sentidos! “Era ele? Sim, era!”
E é assim que o concluído (e com ares de presente) torna-se um grande afago ao coração quando a descoberta é feita! Romances, dramas, comédias ou aventuras? Depende da trama! Em cada uma das possibilidades o contato impossível agora é real aos ouvidos! Contando/Dublando histórias que se fazem vivas em minha vida! 
Hoje agradeço a maravilha de saber que sempre andou ao meu lado, fazendo-me emocionar, mesmo nunca tendo nos conhecido!"




domingo, 12 de fevereiro de 2017

Nos passos da bailarina

“Catou” as sapatilhas e suspirou.
O dia passou e nem viu.
Sons e desenhos no ar,
Sonhos e desejos em vão.
Nem sabe como chegou ali;
Aspirações suas ou de outros?
Corpo moldado para visões alheias,
Mente inquieta por desilusões.
Nem entende por quais motivos
Insiste naquela dança.
Dançando nos palcos,
Dançou na vida.
Mas não saberia como mudar,
Mesmo se pudesse voltar:
Só sabia subir às pontas
Dos pés até as nuvens.
Dos outros, não suas!
Olhou para trás e não viu na penumbra
A menina com máscaras que um dia sorriu...


Não mais

E foi quando deixou partir,
Que decidiu voltar.
Os olhos e cabelos negros que antes reinavam
Em ventos de pensamentos
Nada mais significavam.
O amigo-irmão que desejava ter por perto
Sentiu-se no direito de ser “ninguém”
Quando (ela) mais precisava.
E nas viravoltas que a vida dá
Ele olhou para trás
E sentiu saudades do carinho oferecido
Mas omitido pela unilateralidade do sentimento.
Sentiu falta,
E se arrependeu...
Era meia-noite:
Muito tarde para voltar atrás.
Os abraços já não eram,
Outros já os tinham feito superar
A espera de outrora.
Tempos que não voltam,
Sentimentos que não permeiam.
Justiça?
Talvez, quem saberia?
Pra ela
Tanto fazia...


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Platônico e atemporal

E na distância, que nem o passar dos anos pode explicar, encontrei olhos que gostaria de encarar. Porém, a relação entre tempo e espaço nem sempre é justa. Ah, mas como gostaria de ter, “páreo a páreo”, a mesma época que a sua... Talvez fosse – aquela – a chance de perseguir sua afeição e tornar-me parte de seu enredo. Mas não poderia. Eu, menina; você, homem feito.
As estações transcorreram e sua vida formou-se em outras. Gerações afastadas, entretanto (ainda) com um desejo latente de ter um pouco do outro por perto. O olhar é do agora. A paixão rápida e juvenil nasceu anos depois, e num fio único de esperança, solicito baixinho: “Quer fazer parte da minha história?”.


sábado, 4 de fevereiro de 2017

Futuro do Pretérito

Sou meio (a meio?) assim...
Sou parte hoje, parte saudades – mesmo de possibilidades que só existem em mim.
Sinto falta (inclusive!) do que permanece próximo – mesmo na distância dos ritmos ditados pelo dia-a-dia e das diferenças que há entre todos.
Sou (muitas vezes) regida pela falta que nem sempre é possível de ser dita.
Sou, além de tudo, saudades do que poderia ter sido.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Na estica

Estamos cada dia mais “gourmetizados”* na nossa relação com o aspecto externo. 
O mundo nos atropela e, quando não estamos de acordo com suas expectativas, somos excluídos e esquecidos.
Forçam-nos a comer menos e colocam em nossas cabeças que o importante é que fiquemos sarados, gostosos e turbinados, mas não pela saúde em si, mas pela necessidade de parecermos perfeitamente belos para uma mídia de celulares em todas as esquinas e a obrigação da fama “imediata” nos meios de comunicação.
Estamos deixando de mostrar quem realmente somos. Nosso brilho pessoal está dando lugar ao brilho superficial da graça objetal.
Perdemos o direito de evidenciar fraquezas, expor a raiva de dias ruins (pelos mais diferentes motivos) ou de sermos incapazes de controlar certas situações, mesmo que momentaneamente, pelo risco de evidenciar tais eventos com uma maquiagem borrada e mal cuidada. Ah, e a maquiagem... Essa sempre impecável em todos os ambientes! Na festa, trabalho, casa dos amigos e, inclusive, no momento de troca de máscaras de felicidade, quando chegamos naquele cantinho de nossa intimidade, ao tirarmos os sapatos do encanto pleno.
Nossas vestimentas estão “evoluindo” rápido demais, deixando para trás o conforto e evidenciando a superficialidade das marcas e nomes de grande sucesso.
Desleixo é coisa de gente desprezível! Afinal, elegância não é sinal de postura (nata ou adquirida), onde o bom senso segue de mãos dadas com um (bom) gosto peculiar. O dinheiro impera no uso da boa aparência.
Não há espaço para os deslizes que nos fazem humanos – ou enganados – em algumas (e até muitas!) de nossas escolhas.
Atrás de cada disfarce, os olhos estão fundos e escuros, por conta do lamento oculto. E o espírito cada dia mais órfão dos verdadeiros significados que deveriam nos preencher.

* Gourmetizar significa “se utilizar de uma embalagem de estética refinada, evidenciando certo exagero na aparência, para (no fim) oferecer um produto simples, ruim ou sem graça”.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Ermo

Há dias que a vida faz-se presente tal qual um tapa na cara. Ou um grande soco no estômago. São dias de compreensão de uma verdade que jorra para dentro do sangue, sem meios termos. O solavanco surge na forma de frases e gestos de quem mais precisamos naqueles instantes. Quem era para ser “ajuda”, torna-se “tortura”. E pior: somos nós que, aos poucos, por querermos bem, por respeitarmos o outro, autorizamos a entrada em nosso território e, assim, acabam fazendo pouco caso do que temos de (aparentemente) importante.
O desgosto, que já se fazia presente, começa a ter a aparência de apenas um devaneio, pois a angústia pré-existente agiganta-se no momento do empurrão dado para dentro da lama.
Hoje, estou profundamente entristecida. Por ter fé em algumas pessoas e nas circunstâncias que surgem no caminho. Percebo que, nos poucos momentos que tento abrir as portas que dão acesso aos meus destroços – como um pedido de socorro – mais lixos são arremessados, mesmo que eu tente me esquivar!
Não sinto mais sabor. Quase não enxergo mais cores. E quando sinto que esse ser chamado solidão se aproxima cada vez mais, sentando-se ao meu lado, prevejo a poça suja e embaçada à minha frente, em tons de cinza e nublado.