sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Erupção

“Algumas vezes, uma verdade dói exatamente naquele espinho inflamado que ninguém tem coragem de provocar sua explosão – e no qual se remeteria à cura. Tal ação não é, necessariamente, um ato cruel.

Após o período da dor criada pela ‘pressão’, aquele que ainda possui uma ferida aberta conseguirá perceber que o querer bem anda de mãos dadas com a preocupação e o amigo ‘malfeitor’ pode ter ajudado a tirar pesos do coração, antes, doente por se encontrar em situações conflitantes e de difícil resolução – aos seus olhos.”











terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Naufrágio

Tem dias que cansa.
Cansa andar,
Cansa falar,
Cansa retrucar,
Cansa (até) amar...
Dias de arrasto,
Dos pés,
Dos sonhos,
Da vida.
Sensação forte,
Cheia de indagações
E falta de vontades.
Mais forte que eu,
Maior que todos.
Vontade de sair,
(daqui)
Fugir,
Imergir,
Fingir
Ao sorrir,
Só ir...
Desânimo de ser,
De crer,
De viver.
Soltar o ar,
Voar,
E não mais voltar.
Acabar.
E só.


Escombros n'alma

Tenho imensa admiração por cenários com ruínas.
Tais visões me remontam histórias que gostaria ter experimentado um dia. E talvez até tenham feito parte de meu enredo eterno, caso as crenças que em mim habitam façam algum sentido...
Questiono-me se as cicatrizes de tudo o que precisa ser restaurado em mim possuem tal beleza ou se apenas apontam, cada dia mais, falhas e absurdos que me fazem ser quem sou.
Esse meu fascínio pode revelar mais que apenas um entusiasmo visual, pois sinto uma vontade enorme de reviver cada uma das narrativas – de pessoas e lugares – contidos naquele espetáculo congelado pelo tempo. Tento esquecer, ao menos por uns instantes, a fábula que compõe minha existência.
Não compreendo... 
Apenas acabo exaltando, mesmo sem querer e perceber, a insignificância que existe no meu ser e que o Alto, nem sempre, permite conhecer...


segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Mãos dadas

“A maturidade de um homem encontra-se na capacidade de ‘saber ouvir e respeitar’, mesmo que o ‘concordar’ não esteja acoplado à ideia. 
Não custa nada frear o orgulho ferido e analisar o que está sendo dito. 
Nenhum humano é dono da verdade. Nem quem fala, nem quem escuta. 
São apenas observações e pontos de vista que podem nos ajudar a crescer, 
caso anulemos (ao menos um pouco) nossa incrível mania de autossuficiência.”


sábado, 24 de dezembro de 2016

Princípio

Há anos, em um dia como hoje, o mundo acordou.
Uma luz cruzou o céu anunciando a boa nova: o choro inocente da criança revelava a necessidade de tirar o lodo ignorante presente nos ombros de cada pecador.
As trevas, que antes insistiam em abarcar o mundo, deram lugar à luz em esperança por tempos melhores.
E, assim como naquela data, agora é hora de virar a página manchada pelas lágrimas de outras histórias e guardar como ensinamento os tropeços que nos fizeram cair ou sangrar.
Algumas vezes, a lição aprendida deve ser arquivada num caderno da memória e um novo volume aberto para novas narrativas.
Uma das principais características dessa época do ano é quando falam que o Natal é dar o perdão ao irmão! Claro que a limpeza das discórdias é essencial para que o período tão propício a mudanças e melhoras interiores. Mas, acredito, que esse ato de perdoar deve começar em nós! Devemos nos curar primeiro! Amenizar as dores que insistem em manter a ferida aberta no peito e, só então, estender os braços àquele que nos dilacerou a alma. Isso para a recuperação dos sofrimentos ser real e sem possibilidades de retorno ao ponto de partida – dos erros.
No meu caso, meu coração ainda não está puro; há muito o que se perdoar – dentro e fora.
Só que resolvi entregar todas as minhas intenções nas pequenas mãos deste ser imensamente humano, eternamente divino, como prova de gratidão por sua fé em mim...
E, realmente, espero que Ele me ajude a ver – no espelho e no mundo – com as lentes do amor! Amor gravado em seus olhos tão cheios de confiança nas criaturas.

FELIZ NATAL!


quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Em tempo, há tempo... - Errante

Texto escrito em dezembro de 2009. Provavelmente num momento de forte depressão. Não tenho todo o peso dessa revolta no dia de hoje, mas um sentimento está me atropelando e fazendo me sentir (quase) da mesma forma. O demônio que havia ao meu lado, não está mais. Porém sentimentos são imprecisos e incontroláveis. E, agora, pedem para sair...

(dezembro de 2009)

Campo vazio, visão embaçada.
Mira em um horizonte que nunca chegará.
Passado perdido,
Presente indefinido,
Futuro incerto.
Sou e não sou.
Seria, mas agora, não.
Vou sozinha, vou errante, vou caindo... em mim mesma...
Eu, pesadelo sem fim.
Sou ninguém, sou apenas eu...
E mais nada...

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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Cura

Após um ano da experiência vivida (como relatado no post anterior), fiz nova análise do meu coração e de tudo o que em mim ficou. Muitas coisas aconteceram e tantas outras foram se encaixando. O resultado, logo abaixo.

(Setembro de 2016)

Há um ano consegui, finalmente, tirar os pés do chão e colocar meu coração em prova.
Eu precisava, urgentemente, enfrentar alguns demônios e acalmar a necessidade de conhecer alguém que, pela força divina, havia sacudido a presença desses “seres” em mim e ao meu redor. E foi muito difícil enfrentá-los. Nossa, como foi!...
Uma viagem angustiante dentro de minha alma, atravessando oceanos para tentar me encontrar.
Senti cada presença maligna ao meu redor e o quanto estavam fazendo mal à minha evolução para quem eu desejava ser. Porém Deus não desistiu de mim (mesmo quando nem eu me aguentava mais!).
E algo, muito sério, mudou – em mim – naqueles dias.
Consegui derrubar, com a intercessão de Nossa Senhora, o pior do pior que havia em mim! Luta com direito a cortes e arranhões que nunca serão esquecidos, pois se transformaram em cicatrizes eternas no meu peito.
Sei que não sou mais a mesma.
Ao mesmo tempo, nesse período tão turbulento, conheci aquele que me “orientou” a caminhar para o lado do Bem, independente de minhas crenças e de como meus tropeços poderiam machucar meus pés.
Durante a viagem, ele também me magoou (e talvez nem tenha percebido isso) me jogando num canto qualquer. E mesmo me sentindo um “lixo”, algo me fez querer levantar e seguir em frente. Engoli o orgulho próprio de quem precisa ouvir o pedido de perdão e enfrentei o repúdio daquele que tem o mundo “aos seus pés” e que, com a fama e sucesso, vez ou outra, acaba se confundindo em alguns olhares. Acredito que hoje, se me fiz em memória de algum modo, não há erros em interpretações.
Ainda tento entender esse “guia espiritual”. Procuro não imaginá-lo (como ele bem gosta de definir). Deixo-o apenas ser quem é. Não nego que, algumas vezes, a decepção toma conta. Palavras e ações são traiçoeiras, mas não deixo de lembrar o quão humano ele é – e não um santo, como muitos ainda o pintam. Entretanto, por não sermos amigos, não tenho a abertura necessária para apresenta-lo às minhas impressões. E, sinceramente, já não me interessa falar coisa alguma. Um abraço seria suficiente para selar o laço nada compreendido por mim,... Provavelmente porque o respeito que Deus me ensinou a ter por ele, como um ser que erra e acerta, ultrapassa meu entendimento... E, talvez, eu nunca entenda.
Enquanto isso, vou deixando o tempo correr e as lembranças dessa experiência, vez ou outra, alavancarem o pouco de bom que há em mim – sim! Tenho muito (ou tudo!) para melhorar!
Rego flores e deixo as borboletas, em amizade, voltarem para dar “bom dia”, mesmo em dias nublados. Porque sei (ah, isso eu tenho certeza!) de que, se dele não ficar coisa alguma no final, aqueles que o cercam (ou cercavam) e que hoje fazem parte da minha história, são as joias preciosas que Deus queria colocar em minhas mãos e vida...
E limpando entulhos antigos, no jardim do meu ser, possibilito a abertura de portões empoeirados para um ambiente que clama aos céus a chance de ser tornar um lugar aconchegante para encontro entre amigos queridos.
E da porta, digo em bom tom: "Entrem! A mesa está posta!"


Sobre peregrinar...

O texto abaixo foi escrito logo que retornei de uma viagem aos Santuários Marianos (Portugal, Espanha e França) em setembro de 2015. Viagem complicada, cheia de mistérios dentro de mim e ao meu redor.
Agradeço a atenção de todos aqueles que se predispõem a ler minhas análises...
Em seguida, postarei minha apreciação após um ano da referida viagem.

(outubro de 2015)

Começou com uma vontade enorme de ser curada. Agregou-se à ideia concreta de querer conhecer quem me ajudou a encontrar um norte em direção ao divino. E lá fui eu. Malas nas mãos, esperança no coração.
Já no início, percebi o peso que teria que carregar por todo o percurso. Peso real, impresso nas bagagens com itens desnecessários, mas que só viria a compreender no meio do caminho... Peso espiritual, que, nas dores físicas, revelava tudo aquilo que em mim sobrava, em trapos e entulhos mentais.
O caminho foi complicado. Tropeços, mágoas e lágrimas. Não nego, não sabia que seria assim. Mas, no decorrer do processo, percebi – e senti claramente na alma – a necessidade plena de ter que passar pelo calvário que uma peregrinação significa.
O fardo aborrecido do início da viagem prosseguiu, em mim, por alguns dias. Desânimo, tristeza e uma vontade imensa de voltar ao ninho. Porém, a tarefa seria exatamente essa: descobrir nas pedras que feriam meus pés, a oportunidade de construir castelos. Assim, persisti...
Magoei quem eu mais amava e fui ferida por quem tanto queria bem. Meus erros, reconheço. Quero corrigi-los, aos poucos, incansavelmente.
Aos que me sangraram, agradeço o desconhecido golpe que me foi dado. Talvez, na minha improdutiva percepção, não tivesse condições maduras de compreender seus reais motivos de me humilhar frente aos olhos alheios. Agora, nada disso importa. Quero apenas o sopro macio da lição berrante que me fez chorar.
Peregrinar é, antes de mais nada, enxergar-se. Carregar a cruz da solidão – mesmo que acompanhado – e perceber que o divino se revela e se renova todas as vezes que o que está ao nosso redor começa a fazer diferença no nosso olhar.
Ninguém falou que seria fácil. E confirmo, não é.
Contudo, quando sacudimos o tecido que reveste nossa couraça ante o estranho, identificamos o quão melhores podemos ser.
E, após o retorno à rotina, conseguimos distinguir, nesses olhos humanos, todo o divino alcançável ao toque de nossas mãos...

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domingo, 18 de dezembro de 2016

Fragilidade

“Tenhamos cuidado ao deixar as portas das nossas almas escancaradas! 
Por elas entram não apenas os ladrões das superficialidades, 
mas também aqueles que querem tomar posse das nossas magias pessoais. 
Se tais furtos acontecem, podemos ficar - ainda mais - vulneráveis à lama podre que o alheio não consegue expurgar de si, mas tenta nos induzir a aceita-la como nossa.”

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sábado, 17 de dezembro de 2016

(Des)Apego

Sou daquele tipo de pessoa que, quase sempre, faz algumas limpezas materiais.
Nesses momentos, fuço tudo o que tenho dentro de casa ou trabalho e fico me perguntando se ainda precisarei “disto ou daquilo” um dia e, caso a resposta seja categoricamente um NÃO, separo para doação.
Não sei onde ou quando surgiu essa minha aflição ao me incomodar com coisas acumuladas, mesmo que surjam objetos que - ainda - não consigo me desfazer.
Quando estou nessas arrumações, acabo encontrando coisas que nem imaginava ainda possuir: pequenos papéis de bala que um amorzinho do colégio deu, a fitinha de uma viagem que fiz com os amigos, um papelzinho com algum recadinho aparentemente bobo, mas que no dia me trouxe sorrisos e até gargalhadas... E acabo sorrindo novamente!
Apesar dessa mania de limpeza dos exageros, esses pequenos afagos ainda me fazem feliz e acabo não conseguindo jogá-los fora...
Tenho lembranças (em tais gestos) desde os meus cinco anos de idade, quando uma colega de faculdade de minha mãe me deu um cartãozinho cheio de carinho. Não me lembro da moça que ofertou tal presente, mas nunca me esqueci do modo como me tratava e do carinho que tinha por mim.
Talvez diante da vida imaterial eu reaja de maneira bem semelhante.
Pequenos fatos me atiçam o coração e fazem com que eu me sinta especial. Um sorriso, um abraço, um aceno... Levo comigo para sempre esses pequenos toques na alma! São “miudezas” grandiosas na minha vida.
Sigo fazendo minhas limpezas – na alma e na sala.
Guardando valores e anulando lixos que só me fizeram carregar pesos desnecessários por períodos intermináveis dentro de mim.



quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Desordem

E o que fazer quando uma chama fervorosa invade as estruturas, antes esquecidas pelo tempo, insistindo em fazer-se presente em sentimentos indevidos?
O pranto é demasiadamente irritante, visto que aquilo que não é compreendido não pode ser sabiamente administrado.
Incômodo diante da incompletude dos eventos e da falta de amadurecimento exigida, mas não absorvida como deveria.
Não aceito!
É insano e inoportuno!
Um “looping” de percepções sem resposta.
E a sensação de estar caindo, novamente, no fundo de um poço sem fundo e sem nexo...


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Eu, grão

Vez ou outra, um sentimento sombrio ataca meu peito.
Uma impressão de que, o que tento manter comigo, foge-me pelas mãos, tal qual areia... Onde poucas são as migalhas agarradas à pele.
Nesses instantes, acabo fazendo o que não deveria: comparando.
Percebo minha enorme insignificância e o quão vazia de conhecimentos tenho sido.
Vida pobre, vida escassa.
Pobre em sabedoria, escassa de profundos sentimentos.
O que tenho a oferecer? Lamentos e análises?
De fora, parece vitimismo. Noutras, drama. Mas a percepção é quase tátil – daquele vento ensurdecedor que arrasta esperanças e dissipa oportunidades únicas.
Sinto que estou passando e nada fazendo para ficar.
Arranho um pouco algumas histórias, mas não permaneço.
Os últimos amores do coração, joguei no fogo do esquecimento. Percebi a extrema falta de maturidade para lidar com tantas rejeições. Quando o tropeço é certeiro, não adianta criar expectativas.
Se sigo? Sim, é o jeito!
Ainda tenho alguns pequenos trechos a percorrer. Nada que vire memória, mas é necessário caminhar.
Nesses passos, algumas vezes, tenho a sensação que Deus não espera muito de mim. E noutras, que Ele nunca fez muita questão de estar ao meu lado. Afinal, qual pai quer ver um filho tão cheio de oportunidades, mas tão cheio de preguiças para viver a vida? Assim, prefere conferir os outros a ter que exigir daquele ser desanimado algo extraordinário...
O ínfimo é parte de mim.
Boas histórias? Não tenho.
Meu mundo é varado pelo reflexo da feiura espiritual que vejo no espelho da alma.
Cada dia posiciono-me mais abaixo e acabo me enxergando através das solas dos sapatos. Sempre acabo permitindo que me pisoteiem e, geralmente, por quem não tem nenhum compromisso comigo.
Minha verdade não sobressai. Não me orgulho disso; aliás, é algo patético de expor.
Entretanto, ainda tenho forças para gritar.
É um grito abafado, quase sem esperanças.
E é o que ainda me move a ter expectativas do que eu ainda posso ter.
E ser.

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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Em tempo, há tempo... - Crepúsculo

O texto abaixo é de 2009. 
Parte das minhas reflexões d'outra hora permanece.
Muitas outras surgiram, mas decidi não colocá-las, já que tornaria a escrita mais densa. Fiz apenas pequenas correções. 
Enjoy.

"Logo que o Sol se põe, é possível notar os passos apressados de criaturas que tentam continuar suas histórias. São histórias interessantes, mas poucos se propõem a parar para enxergá-las.
O vai-e-vem na estação do metrô não me deixa fixar a atenção em alguém em especial, pois tudo passa muito rápido.
Tento observar nos olhos voltados ao chão (ou mirados em um futuro incerto) suas identidades e como suas vidas escorrem pelos dedos sem que percebam.
Somos seres egoístas. O corre-corre de nossos dias quase nos faz atropelar as mãos que se erguem à procura de alguma ajuda. A ajuda material muitas vezes é uma desculpa para que se dirijam a nós e nos peçam o que a materialidade não permite: a atenção, o carinho, o sorriso...
Não nego, sou uma das pessoas que baixam a cabeça e seguem em frente, como se não ouvissem os lamentos dos excluídos. Mas ouço murmúrios e os carrego dentro do peito por vários momentos, com a sensação de inutilidade e covardia.
O medo e a indiferença nos rodeiam constantemente. Há também o vazio, que consigo sentir mesmo dentro da condução repleta de vidas esquecidas e encontradas.
Se fôssemos comparar os vagões com nossas vidas, perceberíamos o quanto somos inconstantes e como nos deixamos levar por sentimentos vazios e confusos.
Dentro desse metrô lotado, é possível notar o cansaço e a incredibilidade com os resultados das lutas. Como é claro perceber a vida perdida no rosto daquele senhor que espera que alguém se compadeça e ceda o lugar e, no descanso provisório, possa então chorar os sonhos não realizados...
Nesse ambiente, percebemos o quanto todos nós estamos prontos para criticar as ações do outro. São receitas milagrosas que possuímos “na ponta da língua” para aconselhar como determinadas situações deveriam ser realizadas ou como concretizar procedimentos considerados incompletos.
A cada parada, uns entram, outros saem. Vejo a esperança refletida no rosto da grávida que carrega parte de nosso futuro e contemplo o sorriso da criança que já possui em sua breve caminhada, marcas de um mundo confuso e devastador.
A escrita de nossas histórias está sendo feita desta maneira. Por vezes, estamos com tantos sentimentos aglomerados que nem percebemos o quanto estamos distraídos a ponto de permitirmos que os maus pensamentos, a desesperança e o sonho contido (e nunca realizado) fiquem ao nosso lado e forcem que as boas ações desembarquem na próxima estação.
Há momentos em que o solavanco do trem quase nos faz cair; noutros, nem sabemos como nos segurar. E, no susto da possibilidade da queda, ao tentarmos colocar a mão no ombro dos que estão mais próximos, é possível que nos olhem com desconfiança, pois estaríamos invadindo a individualidade de cada um.
As realidades se condensam por alguns instantes. Todos somos iguais, todos precisamos daquele espaço e nos respeitar para que possamos seguir em frente.
Poucos percebem o quanto o caminho pode ser interessante, mais até que o ponto de chegada. Há novas possibilidades em todos os instantes, porém pouca disponibilidade para vislumbra-las.
Uma criança chora, uma senhora reclama. São nossas angústias, nossos lamentos e nossa incapacidade de lidar com o agora. Todo aquele aperto nos sufoca. Perdemos a paciência, tornamo-nos intolerantes com a realidade que um dia passará.
Chega o momento da esperada “estação” de chegada. “Graças a Deus, vou pra casa descansar!” diz uma mulher atrás de mim. Será que Deus realmente deseja o que ela deseja? Será que não foram disponibilizadas àquela mulher infinitas possibilidades de evolução no caminho que a levava ao tão esperado fim? Será que o caminho, os passos, o percurso deve ser ignorado? Não sei. O que sei é que também dou continuidade à minha história. E, mesmo sem perceber, todos aqueles que estavam no meu caminho, agora fazem parte dela. Eu os carrego comigo nos próximos passos que eu seguir..."

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Na batida

Já nasceu
Tique Taque
Abre os olhos
Tique Taque
Cresce a cria
Tique Taque
Anda logo
Tique Taque

Já é dia
Tique Taque
Larga o berço
Tique Taque
Solta a barra
Tique Taque
Dessa saia
Tique Taque

Vem Estudo
Tique Taque
Muitas provas
Tique Taque
E os testes
Tique Taque
Dessa vida
Tique Taque

Vêm as festas
Tique Taque
Formatura
Tique Taque
Mas não olhe
Tique Taque
Para trás
Tique Taque

Já é tarde
Tique Taque
Vem trabalho
Tique Taque
Casamento
Tique Taque
E os filhos
Tique Taque

Dorme tarde
Tique Taque
Logo acorda
Tique Taque
Corre logo
Tique Taque
Passa o tempo
Tique Taque

Chove um pouco
Tique Taque
Aqui dentro
Tique Taque
Muitas brigas
Tique Taque
E o divórcio
Tique Taque

Chegam netos
Tique Taque
E as dores
Tique Taque
Lancinantes
Tique Taque
Pelo corpo
Tique Taque

Fim de ano
Tique Taque
Vamos lá
Tique Taque
Já é noite
Tique Taque
De Natal
Tique Taque

Bate o sino
Tique Taque
Pequenino
Tique Taque
Soltam fogos
Tique Taque
Dói o peito
Tique Taque

O silêncio
Tique Taque
Faz quebrar
Tique Taque
O “Tique Taque”
Tique Taque
Desta vida
Tic... Creck!


sábado, 10 de dezembro de 2016

Doce encanto...

Como queria...
... voltar num tempo de suas pequenices...
Numa época que, em memória, nem faz parte de sua história, pois a idade e as características de sua existência não permitem.
Saudades de cada afago miúdo, afagos no susto!
Susto daquele que chegou sem querer e, só querendo, se transformou em nosso bem querer.
Olhos inocentes, criatura iluminada pela essência peculiar aos seus.
Nosso menino.
Cresceu.
Mas menino continuou.
Trazendo, em movimentos, um universo cheio de significados.
Queria faze-lo eterno em matéria.
O tempo é cruel e carrega você aos poucos.
Queria ter, para sempre, todos os seus carinhos ao meu lado.
E esse seu jeito de lidar com a vida: tão único que me ajuda a encontrar o Bem Maior e me faz compreender o tamanho da insignificância de tudo se eu não tiver, como base, o amor incondicional.
Amor esse, gravado em coração, em cada uma de suas patas...

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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Preço do eterno

E por quantas vezes 
o romance vivido num olhar 
tornou-se mais marcante
que o vivido na pele?...



quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Calo-me. Cálice.

O texto abaixo foi gestado em 06 de novembro de 2015. Fiz para uma pessoa querida com a finalidade de entrega-lo em mãos em um momento específico. E assim o fiz. Porém, acredito que o receptor nunca o tenha lido. Não o culpo, pois sei que isso pode acontecer. As correrias do dia a dia quase nos obrigam a fazer tais coisas: adiamentos – a tornarem-se eternos – do que poderiam ser afagos, elogios ou mesmo sorrisos no papel. E o que seria mais um elogio a quem recebe tantos?
Já me perguntei se as sensações apresentadas naquela época seria as mesmas após um ano... A resposta? Certamente não. Sei que escreveria de modo diferente, usando outros termos, outras palavras, usando uma “lente” mais clara nos olhos. Eu não seria tão dramática, já que tentaria ser um pouco mais “pé no chão”.
Muitas coisas mudaram, mas percebo que alguma magia ainda permanece, mesmo que minha visão tenha se purificado um pouco das minhas meras impressões. Mas... e quem foi que disse que é ruim perder um pouco da magia? Às vezes nos dá a oportunidade de percebermos que há mais segredos e surpresas do que supúnhamos em outros tempos.
Provavelmente eu esteja vendo algo mais real, menos “imaginado”. E, nesse caso, isso é muito interessante, pois pode ser o sinal de algum tipo de amadurecimento que antes eu não tinha.  
Independente de quaisquer novas (ou velhas!) análises, e na intenção que minhas palavras não ficassem perdidas para sempre numa gaveta da minha memória, resolvi compartilhar tais pensamentos logo abaixo.
Espero que apreciem a leitura. 
Sandra Carreiro.

Calo-me. Cálice.

Tal qual feitio de uma taça, sinto-me vidro. Vejo-te, cristal.
Moldes únicos feitos por Mãos Nobres que amam, porém com matéria prima diferenciada.
Na minha opacidade, sinto-me suja. Na tua transparência, vejo-te imaculado.
Tens o doce suspiro daqueles que não sabem esconder o que realmente são.
Transparência pura em olhos brilhantes que revelam o verdadeiro amor Daquele que O criou.
Em mim, sinto a tristeza revelada em meu reflexo, entregando em galopes o fosco próprio de uma vida sem viço...
Tu tens o manejo simples dos que foram feitos tal qual Criador.
Eu, o sufoco quieto dos que não se conhecem.
Mas isso é vírgula em mim...
Não aceito o gosto amargo e restrito que possuo a oferecer...
Quero, em mim, o doce frescor Daquele que emana no verso e reverso do cálice irmão que me aconchega em palavras.
Quero evoluir do nada que sou.
Quero, meu amigo, fazer diferença no feitio dos que, como eu agora, são como o vidro opaco da solidão.
Quero em mim, o Vinho da Vida que, como em ti, nasceram desde o cunho da areia divina e que, hoje, transparece em seus feitos.
Peço-te: ajuda-me a ser cristal!
Ajuda-me a descobrir em mim a ousadia necessária para, mesmo que ainda como vidro indigente, proteger-me daquilo que não me agrega.
E que eu possa, após todo o processo, mesmo um pouco, mesmo ao longe, ser para ti o que és em mim: o sonho do Pai renascendo em Verdade e Vida... 

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Em tempo, há tempo... - Areia nas horas


Sou afeita ao tempo que não consigo segurar com as mãos...
Aos momentos que, ao tentar segurar, se entrelaçam no meu coração
e não se deixam esvair...
Sou falha, sou nada.
Mas sou cada um e cada suspiro que em mim tocaram 
e, mesmo sem querer, ficaram...

(Novembro de 2015) 



quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Enumerando

Hoje perguntaram minha idade. Pensaram que eu tinha 11 anos a menos do que realmente tenho. Fiquei cabreira me perguntando que mágica foi aquela que a foto fez em mim, que me fez tão jovem aos olhos de uma pessoa tão sensível. O susto veio em hora engraçada: faltando apenas um dia para mais um ano de vida. “Ganhando idade, ganhando na aparência?” Sinceramente, acho bem difícil...
Anos atrás, (por volta desses 11 anos a menos), estava com uma amiga grávida - de quase minha idade -  e perguntaram se eu era a mãe dela... Ou seja, se naquela época eu já tinha a aparência de uma mulher de mais de 50 anos, hoje, estou beirando os 60 e poucos...
Nada contra o envelhecer. Faz parte de todos nós e cada idade possui sua beleza e atrativos! Mas é bem chato saber que estou fora do “tempo correto”! Ok, foi triste, mas acabei me acostumando com essa ideia.
Nunca fui uma pessoa vaidosa. Nunca tive paciência e disposição. Unhas, cabelos, roupas, acessórios,... Sempre me pareceram coisas supérfluas. É claro que tive meus momentos de “auto arrumação”, mas nunca fiz com muita felicidade. Talvez por isso, entender-me feia e sem graça, é quase uma regra de vida. O pouco que tenho visto no espelho me deixou sempre com os pés no chão (mesmo que nunca seja muito agradável de se saber!).
Quem sabe sou uma daquelas pessoas em que o susto inicial da aparência se dissipe com o conhecimento – mesmo quando acredito que tenho pouco a oferecer ao próximo. Ver-me como uma casca sem conteúdo é o que mais me assusta... mas o que faço se ando tão preguiçosa para viver?
Em resumo, tenho muita fé nos outros. Sempre! Olho e percebo o quanto alguns têm para acrescentar e crescer – e, por vezes, nem sabem a preciosidade que são!
Agora, fé em mim? “Eita, lelê...”

PS: Aos que me conhecem, esse texto é, como todos os outros, um desabafo. Não escrevi para receber elogios. O modo como me vejo é cruel, mas é bem real. E sólido.