quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Calo-me. Cálice.

O texto abaixo foi gestado em 06 de novembro de 2015. Fiz para uma pessoa querida com a finalidade de entrega-lo em mãos em um momento específico. E assim o fiz. Porém, acredito que o receptor nunca o tenha lido. Não o culpo, pois sei que isso pode acontecer. As correrias do dia a dia quase nos obrigam a fazer tais coisas: adiamentos – a tornarem-se eternos – do que poderiam ser afagos, elogios ou mesmo sorrisos no papel. E o que seria mais um elogio a quem recebe tantos?
Já me perguntei se as sensações apresentadas naquela época seria as mesmas após um ano... A resposta? Certamente não. Sei que escreveria de modo diferente, usando outros termos, outras palavras, usando uma “lente” mais clara nos olhos. Eu não seria tão dramática, já que tentaria ser um pouco mais “pé no chão”.
Muitas coisas mudaram, mas percebo que alguma magia ainda permanece, mesmo que minha visão tenha se purificado um pouco das minhas meras impressões. Mas... e quem foi que disse que é ruim perder um pouco da magia? Às vezes nos dá a oportunidade de percebermos que há mais segredos e surpresas do que supúnhamos em outros tempos.
Provavelmente eu esteja vendo algo mais real, menos “imaginado”. E, nesse caso, isso é muito interessante, pois pode ser o sinal de algum tipo de amadurecimento que antes eu não tinha.  
Independente de quaisquer novas (ou velhas!) análises, e na intenção que minhas palavras não ficassem perdidas para sempre numa gaveta da minha memória, resolvi compartilhar tais pensamentos logo abaixo.
Espero que apreciem a leitura. 
Sandra Carreiro.

Calo-me. Cálice.

Tal qual feitio de uma taça, sinto-me vidro. Vejo-te, cristal.
Moldes únicos feitos por Mãos Nobres que amam, porém com matéria prima diferenciada.
Na minha opacidade, sinto-me suja. Na tua transparência, vejo-te imaculado.
Tens o doce suspiro daqueles que não sabem esconder o que realmente são.
Transparência pura em olhos brilhantes que revelam o verdadeiro amor Daquele que O criou.
Em mim, sinto a tristeza revelada em meu reflexo, entregando em galopes o fosco próprio de uma vida sem viço...
Tu tens o manejo simples dos que foram feitos tal qual Criador.
Eu, o sufoco quieto dos que não se conhecem.
Mas isso é vírgula em mim...
Não aceito o gosto amargo e restrito que possuo a oferecer...
Quero, em mim, o doce frescor Daquele que emana no verso e reverso do cálice irmão que me aconchega em palavras.
Quero evoluir do nada que sou.
Quero, meu amigo, fazer diferença no feitio dos que, como eu agora, são como o vidro opaco da solidão.
Quero em mim, o Vinho da Vida que, como em ti, nasceram desde o cunho da areia divina e que, hoje, transparece em seus feitos.
Peço-te: ajuda-me a ser cristal!
Ajuda-me a descobrir em mim a ousadia necessária para, mesmo que ainda como vidro indigente, proteger-me daquilo que não me agrega.
E que eu possa, após todo o processo, mesmo um pouco, mesmo ao longe, ser para ti o que és em mim: o sonho do Pai renascendo em Verdade e Vida... 

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9 comentários:

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    1. Obrigada, Eunice! Volte sempre que quiser! Sempre será bem vinda!

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  2. Imagino para quem escrevestes tão belo texto, mas sinceramente ser vidro é mais forte que ser cristal que se quebra até com um som forte e VC amiga é forte como vidro temperado, que é mais difícil de quebrar e aguenta firme os tropeços. Olhe essa pessoa a qual o texto se destinava sofre angústias tanto quanto todos nós, não se engane, pode até não parecer, mas é próprio de nós humanos, seja quem for, passar por tudo, alegria e tristeza, dor, angústia, enfim , nós temos a mania de achar a grama dos vizinhos mais verde que a nossa,definitivamente não é. Minha linda, VC não precisa da ajuda de ninguém para se transformar no almejado cristal, somente VC mesma pode fazer isso por vc e está dentro de nós, a metamorfose, pode apostar.

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    1. Ah, Telina, como admiro sua sensibilidade!
      Você sabe a quem o texto foi destinado e reforço, como comentei na descrição acima, que algumas percepções mudaram nesse ano que passou...
      Hoje percebo que há muitas diferenças entre eu e a referida pessoa, mas compreendo que tenho minhas virtudes e possibilidades de tornar-me melhor.
      Nada como um dia após o outro!
      Nada como deixar que Deus nos mostre verdades e mentiras!
      Nada como esperar o tempo curar feridas e colocar coisas em seus lugares!...
      Obrigada pela análise tão cheia de sabedoria!

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  3. Belíssima expressão, Sandra.
    Revelando não apenas a essência do momento em que foi escrita, mas ainda guardando sementes que ainda que não venham germinar, já cumpriram seu papel em fecundar a poesia dentro de você.

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    1. Sei que ainda há muito a se evoluir da escrita em mim, mas tento nesses pequenos momentos voltados ao meu interior, sugar o máximo de expressão e sentimento!
      Obrigada pela gentil análise, Moacir!
      Volte sempre!

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  4. Quem um dia já não se sentiu assim, descreves no teu escrito algo que um dia também senti. Parabéns !!!

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    1. Faz parte da nossa história...
      Felizmente? Infelizmente?
      Depende de como aproveitamos o ensinamento daquele momento, quando nos afastamos para enxergar melhor!
      Grata pela visita e carinho!

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