O texto abaixo foi gestado em 06 de novembro de 2015. Fiz para uma
pessoa querida com a finalidade de entrega-lo em mãos em um momento específico.
E assim o fiz. Porém, acredito que o receptor nunca o tenha lido. Não o culpo, pois sei que isso pode acontecer. As correrias do dia a dia quase nos obrigam a fazer tais coisas: adiamentos – a tornarem-se eternos – do que poderiam ser afagos, elogios ou mesmo sorrisos no papel. E o que seria mais um
elogio a quem recebe tantos?
Já me perguntei se as sensações apresentadas naquela época seria
as mesmas após um ano... A resposta? Certamente não. Sei que escreveria de modo
diferente, usando outros termos, outras palavras, usando uma “lente” mais clara
nos olhos. Eu não seria tão dramática, já que tentaria ser um pouco mais “pé no
chão”.
Muitas coisas mudaram, mas percebo que alguma magia ainda permanece,
mesmo que minha visão tenha se purificado um pouco das minhas meras impressões.
Mas... e quem foi que disse que é ruim perder um pouco da magia? Às vezes nos dá a oportunidade de percebermos que há mais segredos e surpresas do que
supúnhamos em outros tempos.
Provavelmente eu esteja vendo algo mais real, menos “imaginado”.
E, nesse caso, isso é muito interessante, pois pode ser o sinal de algum tipo
de amadurecimento que antes eu não tinha.
Independente de quaisquer novas (ou velhas!) análises, e na
intenção que minhas palavras não ficassem perdidas para sempre numa gaveta da
minha memória, resolvi compartilhar tais pensamentos logo abaixo.
Espero que apreciem a leitura.
Sandra Carreiro.
Calo-me.
Cálice.
Tal
qual feitio de uma taça, sinto-me vidro. Vejo-te, cristal.
Moldes
únicos feitos por Mãos Nobres que amam, porém com matéria prima diferenciada.
Na
minha opacidade, sinto-me suja. Na tua transparência, vejo-te imaculado.
Tens o
doce suspiro daqueles que não sabem esconder o que realmente são.
Transparência
pura em olhos brilhantes que revelam o verdadeiro amor Daquele que O criou.
Em mim,
sinto a tristeza revelada em meu reflexo, entregando em galopes o fosco próprio
de uma vida sem viço...
Tu tens
o manejo simples dos que foram feitos tal qual Criador.
Eu, o
sufoco quieto dos que não se conhecem.
Mas
isso é vírgula em mim...
Não
aceito o gosto amargo e restrito que possuo a oferecer...
Quero,
em mim, o doce frescor Daquele que emana no verso e reverso do cálice irmão que
me aconchega em palavras.
Quero
evoluir do nada que sou.
Quero,
meu amigo, fazer diferença no feitio dos que, como eu agora, são como o vidro
opaco da solidão.
Quero
em mim, o Vinho da Vida que, como em ti, nasceram desde o cunho da areia divina
e que, hoje, transparece em seus feitos.
Peço-te:
ajuda-me a ser cristal!
Ajuda-me
a descobrir em mim a ousadia necessária para, mesmo que ainda como vidro
indigente, proteger-me daquilo que não me agrega.
E que
eu possa, após todo o processo, mesmo um pouco, mesmo ao longe, ser para ti o
que és em mim: o sonho do Pai renascendo em Verdade e Vida...